Kelen II

Pensava estar tudo bem,
mas não, não está nada.
E se há aqui, alguém
que pode me levantar,
lembro de uma pérola
que vivia a me puxar
para a vida.

E agora, onde estará?
Ela me liga,
para conversar
e me dá lembrança
de lugares,
de pessoas
que nunca conheci.

Sua qualidade de ser
me dá saudade de ter
sua companhia
e sua alegria
perto de onde
nós queiramos voltar.

Consolação

Sinto como se todas as portas
estivessem fechadas,
e todos os ouvidos
selados.

Então me pergunto se sou eu,
se não é tudo reflexo
do meu coração.

Será que alguém aqui
pode me ouvir,
pode me amar
por completo?

Se o meu sentido não desagua,
há mágoa e silêncio
na dor de ser
como mudo, surdo e cego,
privado pelo peso
do mundo negado,
do encontro, do conforto
de um abraço contínuo.

Alguém explique tanta solidão,
e se há na morte consolação.

Proibição

É proibido ser, sem ser rotulado.
É proibido amar, sem ser odiado.
É proibido entender e ser entendido.
É proibido proibir quem proíbe.

É proibido se importar e agir,
sem que se incomodem, ou tentem impedir.
É mesmo proibido ter certezas,
sem que os brutos agridam com sutilezas.

É proibida a grandeza de se dar,
de tentar fazer algo maior que esta vida.
É proibido crer em si e abnegar
as conquistas, pra ganhar após a partida,
quem sabe algo mais do que pedras mortas.

É proibido ter sentido,
não correr perigos.

Se alguém soube algo a mais,
se desejou compartilhar,
saiba que é proibido pensar,
e quem proíbe,
obedece, e muito pouco pode
ofertar
gratuitamente.

Estou transbordando o calor
e o perdão que recebi antes,
quem pois, me pode censurar?

Faça seu barulho despeitado,
não proíbo, mas só peço que
o faça quase sem atrapalhar.